30 de nov. de 2015

Resenha do livro A Herdeira de Kiera Cass

Se A Escolha não foi lá um livro muito empolgante, A Herdeira é simplesmente brochante. Isso porque a Kiera Cass estava muito preocupada em escrever mais um drama romântico adolescente, do que em desenvolver bem personagens fortes, que poderiam dar algum sentido à leitura e contribuir bastante pra história. A começar pela própria protagonista do livro, que apesar de todos os seus defeitos, como ser uma pessoa extremamente mimada, tem muita personalidade, que autora insiste em transformar em defeitos e inseguranças.


Livro: A Herdeira
Autora: Kiera Cass
Editora: Seguinte

Pra contextualizar: o clima em Ileá não está muito bom. O povo continua em conflito com Monarquia, mesmo após a dissolução das castas. O que foi uma sacada inteligente da autora, já que afinal de contas, não é lá uma tarefa das mais simples alterar toda a estrutura de uma nação, principalmente não é fácil fazer com que todos aceitem de bom grado as mudanças. Resumindo, as castas foram retiradas, mas o preconceito ainda permanece. E é neste cenário de rebeliões e revoltas populares, que Eadlyn, filha de Maxon e América, no auge de seus 18 anos, está prestes a assumir o posto de rainha.

Eadlyn, como eu já disse tem uma personalizada forte, e tenta a sua maneira executar da melhor forma possível os trabalhos que lhe foram designados como futura rainha. Aos 13 anos começou a trabalhar com o pai, participa de reuniões do conselho, faz análise das finanças, enfim está se preparando para administrar o país e a última coisa na qual está pensando é se meter em relacionamento amoroso. Mas seu lindo pai tem a ideia brilhante de fazer uma nova seleção, onde dessa vez será escolhido um príncipe.

É claro que Eadlyn reprova totalmente a ideia, mas acaba cedendo para agradar aos pais e aos súditos (todo o ódio do povo pela Monarquia está sendo descontado nela). E com a nova Seleção, nós temos aquela mesma história do primeiro livro se repetindo. Mas com algumas coisas legais, porque Eadlyn não está nem um pouco disposta a pegar leve com os selecionados. E assim temos eliminações bem frias, algumas brigas entre os rapazes, uma tentativa de estupro e alguns romancizinhos nascendo. Até aí nada muito novo, pelo contrário, mais do mesmo. Até que algumas coisas começaram a me incomodar.

Todo mundo ao redor de Eadlyn começa a insistir para que ela se apaixone, para que encontre alguém, que amoleça seu coração, que seja mais dócil, mais delicada, feminina e mais um monte de babaquice. E isso a deixa cada vez com mais raiva de tudo e de todos. O que é bem compreensível, afinal de contas a garota está vivendo um dos momentos mais importantes de sua vida, está prestes a assumir o comando de um país, e todo mundo só se preocupa com o fato dela ser durona demais e não ter um namorado.

É tanto que a autora chega ao ponto de dizer, através da voz de seu irmão gêmeo Ahren, que o povo de Iléa gostará mais de Eadlyn quando ela estiver casada. Eu já estava afim de jogar o livro na parede, depois disso eu queria queimá-lo, mas como custou mais de R$30,00 e é de capa dura pensei duas vezes. Mas ao fim da leitura, sem muitas coisas importantes a dizer, o que eu gostaria era de falar para a Kiera Cass o seguinte:

Não Kiera Cass. Você está errada! Uma mulher não precisa de um homem para ser bem quista. Ela não precisa se casar pra encontrar a verdadeira felicidade. E quando você escreve um livro para adolescentes reforçando estereótipos como esses, você está fazendo um enorme estrago. Vocês está contribuindo para que aquela menina de 15 anos continue em um relacionamento abusivo com o namorado, apenas para parecer mais feminina, só pra agradar as pessoas que acham ela mais legal porque tem um carinha do seu lado. Você já tinha dado umas bolas fora quando exaltou os atos impensados da Marlee em A Elite, mas nesse se superou! Usou todos os clichês possíveis e ainda desconstruiu totalmente a personagem que passou três livros construindo. Sim. Porque a America que conhecemos na Seleçãoa Rainha pasma e sonsa, que posa de enfeite ao lado do rei, da qual fala nesse livro não podem, nunca ser mesma pessoa.
Olha, da próxima vez que for escrever um livro com uma personagem feminina no papel principal, pense na influência que você tem sobre milhões de adolescentes e escreva uma menina com personalidade, escreva uma personagem empoderada e diga à suas milhões de leitoras que elas não precisam tentar se enquadrar em regras bestas do patriarcado, diga que elas podem ser o que quiserem como quiserem. Diga que a felicidade é algo muito mais complexo do que um status de relacionamento, diga por favor que elas podem ser felizes como são.

Sem mais me despeço por aqui.


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