Se A Escolha não
foi lá um livro muito empolgante, A Herdeira é simplesmente brochante. Isso porque a Kiera Cass estava
muito preocupada em escrever mais um drama romântico adolescente, do que em
desenvolver bem personagens fortes, que poderiam dar algum sentido
à leitura e contribuir bastante pra história. A começar
pela própria protagonista do livro, que apesar de todos os seus defeitos, como
ser uma pessoa extremamente mimada, tem muita personalidade, que autora insiste
em transformar em defeitos e inseguranças.
Livro: A Herdeira
Autora: Kiera Cass
Editora: Seguinte
Autora: Kiera Cass
Editora: Seguinte
Pra contextualizar: o clima em Ileá não
está muito bom. O povo continua em conflito com a Monarquia,
mesmo após a dissolução das castas. O que foi uma sacada
inteligente da autora, já que afinal de contas, não é lá uma tarefa das mais
simples alterar toda a estrutura de uma nação, principalmente não é
fácil fazer com que todos aceitem de bom grado as mudanças. Resumindo, as
castas foram retiradas, mas o preconceito ainda permanece. E é neste cenário de
rebeliões e revoltas populares, que Eadlyn, filha de Maxon e América,
no auge de seus 18 anos, está prestes a assumir o
posto de rainha.
Eadlyn, como eu já disse tem uma personalizada
forte, e tenta a sua maneira executar da melhor forma possível
os trabalhos que lhe foram designados como futura rainha. Aos 13 anos
começou a trabalhar com o pai, participa de reuniões do
conselho, faz análise das finanças, enfim está se preparando para administrar o
país e a última coisa na qual está pensando é se meter
em relacionamento amoroso. Mas seu lindo pai tem a ideia
brilhante de fazer uma nova seleção, onde dessa vez será escolhido um príncipe.
É claro que Eadlyn reprova totalmente a ideia,
mas acaba cedendo para agradar aos pais e aos súditos (todo o ódio do povo pela
Monarquia está sendo descontado nela). E com a nova Seleção, nós temos aquela mesma história do primeiro livro se repetindo. Mas
com algumas coisas legais, porque Eadlyn não está nem um pouco disposta a pegar
leve com os selecionados. E assim temos eliminações bem frias, algumas brigas
entre os rapazes, uma tentativa de estupro e alguns romancizinhos nascendo.
Até aí nada muito novo, pelo contrário, mais do mesmo. Até
que algumas coisas começaram a me incomodar.
Todo mundo ao redor de Eadlyn começa a insistir
para que ela se apaixone, para que encontre alguém, que amoleça seu
coração, que seja mais dócil, mais delicada, feminina e mais um monte de
babaquice. E isso a deixa cada vez com mais raiva de tudo e de
todos. O que é bem compreensível, afinal de contas a garota
está vivendo um dos momentos mais importantes de sua vida, está prestes a assumir
o comando de um país, e todo mundo só se preocupa com o fato dela ser durona
demais e não ter um namorado.
É tanto que a autora chega
ao ponto de dizer, através da voz de seu irmão gêmeo Ahren, que o povo de Iléa gostará
mais de Eadlyn quando ela estiver casada. Eu já estava afim de jogar o livro na
parede, depois disso eu queria queimá-lo, mas como custou mais de R$30,00 e é
de capa dura pensei duas vezes. Mas ao fim da leitura, sem muitas coisas
importantes a dizer, o que eu gostaria era de falar
para a Kiera Cass o seguinte:
Não Kiera Cass. Você está errada! Uma mulher não
precisa de um homem para ser bem quista. Ela não precisa se casar pra
encontrar a verdadeira felicidade. E quando você escreve
um livro para adolescentes reforçando estereótipos como esses, você está
fazendo um enorme estrago. Vocês está contribuindo para que aquela menina de 15
anos continue em um relacionamento abusivo com o namorado, apenas para parecer
mais feminina, só pra agradar as pessoas que acham ela mais legal porque tem um
carinha do seu lado. Você já tinha dado umas bolas fora quando exaltou os atos
impensados da Marlee em A Elite, mas nesse se superou! Usou todos os
clichês possíveis e ainda desconstruiu totalmente a personagem
que passou três livros construindo. Sim. Porque a America
que conhecemos na Seleção e a Rainha pasma
e sonsa, que posa de enfeite ao lado do rei, da qual fala nesse livro não
podem, nunca ser a mesma pessoa.
Olha, da próxima vez que for escrever um livro com uma
personagem feminina no papel principal, pense na influência que você tem sobre
milhões de adolescentes e escreva uma menina com personalidade, escreva uma
personagem empoderada e diga à suas milhões
de leitoras que elas não precisam tentar se enquadrar em regras bestas do
patriarcado, diga que elas podem ser o que quiserem como quiserem. Diga
que a felicidade é algo muito mais complexo do que
um status de relacionamento, diga por favor que elas podem ser felizes como são.
Sem mais me despeço por aqui.
http://instagram.com/julienefarnez |
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